23 de novembro de 2024 14:09

Retorno dos servidores do GDF ao trabalho presencial anima setor produtivo.

Comércio varejista projeta crescimento de cerca de 40% até o fim do ano. Sindvarejista acredita que o retorno será benéfico para todo o setor produtivo da capital.


O retorno do trabalho presencial dos servidores públicos do governo do Distrito Federal (GDF), que estavam em home office, animou os comerciantes de Brasília. Com as atividades presenciais, o setor projeta um crescimento de aproximadamente 40% nas vendas até o fim do ano. As expectativas seguem positivas até o Natal, em que segundo o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), espera-se crescimento de 9%, contra um percentual negativo de 2% no ano passado. De acordo com o Portal de Transparência do DF, a capital possui cerca de 178 mil servidores.

O decreto autorizando o retorno presencial foi publicado em 1º de julho, com a ressalva de que gestantes e servidores com hipersensibilidade ou reação anafilática às vacinas devem ficar em casa. Para os trabalhadores com mais de 60 anos ou comorbidades, o retorno ao regime presencial acontecerá após 15 dias da conclusão de receber a vacina. No entanto, o GDF não projetam o número exato nem a data exata em que ocorrerá o retorno da maior parte dos servidores.

Em nota, a Secretaria de Economia explicou que “não possui o balanço geral de quantos servidores retornaram e quantos pediram para ficar em home office”. “Os dados só serão consolidados futuramente, para fins de encerramento de exercício. O retorno, conforme os termos do decreto, está sendo feito cumprindo protocolos e medidas de segurança recomendadas por autoridades sanitárias”, explica a pasta.

Edson de Castro, presidente do Sindivarejista, acredita que a volta é benéfico a todo o setor produtivo. “Isso significa mais consumo, porque a pessoa terá que comprar uma camisa, uma meia, e diversos outros materiais para seu local de trabalho. Nos principais shoppings temos uma infinidade de escritórios, por exemplo, mas com as medidas restritivas, eles deixaram de ser frequentados. Até o fim do mês, pelo menos, teremos um aumento de 4% na venda do varejo”, avalia.

Ludmila Bonfim, proprietária do estúdio Beauty & Academy, na 202 Norte, conta que sentiu um aumento de público no local. “Em julho, tivemos um movimento bem maior do que nos meses anteriores. O comércio aqui na rua também está mais movimentado, então estamos com boas expectativas”, relata. Além dos serviços de beleza, Ludmila também ingressou na disponibilização de cursos. “Foi uma alternativa para manter o rendimento e tive muitas alunas que queriam o curso de sobrancelha, por exemplo, para mudar de área. Porque a pandemia mudou o setor em que trabalhava e elas queriam se reinventar. Além disso, tive que trabalhar ainda mais no engajamento da marca no Instagram”, narra.

A pandemia também exigiu de Rodrigo Melo, chef e um dos donos do restaurante Cantucci, na 413 Norte, inovações inclusive no cardápio. “Antes a gente trabalhava apenas com a venda no salão. Com a pandemia, adotamos o delivery. Mas tivemos que nos esforçar para entender como funcionava a margem de custos porque tudo mudou. Nos primeiros meses, chegamos a vender apenas 33% do que vendíamos, mas aos poucos fomos ganhando espaço. No nosso melhor mês, conseguimos arrecadar 80% com o aplicativo do que vendíamos no salão, mas claro, com uma margem mais apertada”, conta.

A adequação, contudo, não foi simples. “Tivemos que mudar o cardápio porque nem todo prato servido aqui ficava bom para o delivery. Inclusive, com a volta do presencial tivemos que enquadrar um novo item ao nosso menu devido ao sucesso que ele fez no delivery”, pontua.

Desafios

Os desafios da entrega também são citados por Antonio Carvalho, sócio-proprietário do restaurante Gran Bier. “Tivemos que adotar o delivery e ampliá-lo. Procuramos melhores embalagens e profissionalizamos mais esse serviço para entregar uma qualidade maior. No entanto, é um desafio, porque ir a um restaurante é uma experiência, e não é a mesma coisa a pessoa sair para almoçar fora com pedir uma comida em casa. Perde muita qualidade”, esclarece.

Antonio projeta boas expectativas com a retomada dos servidores públicos. “Esperamos algo entre 40 e 50% a longo prazo. A curto prazo, nos próximos meses, deve ficar entre 20% e 30%. Mas já começamos a notar um aumento dos clientes nas últimas semanas. Tem sido gradativo, mas está acontecendo. E os restaurantes são muito influenciados pelo cenário político de Brasília, porque muitas pessoas que trabalham nesses órgãos almoçam fora ou vêm para cá em almoços de negócios”, exemplifica.

Ludmila Bonfim, dona do estúdio Beauty & Academy, fortaleceu a marca nas redes sociais e apostou em cursos

Prevenção continua

De forma geral, a gente sabe que as principais medidas continuam, como o uso correto de máscara, álcool em gel e distanciamento físico. Outros pontos como a etiqueta respiratória são importantes, ou seja, se a pessoa for tossir ou espirrar, mesmo com máscara, colocar o antebraço contra o rosto. A ventilação é outro fator importante em todos os espaços, Devemos optar, por exemplo, por janelas abertas e não usar ventiladores e ar-condicionado. Caso precise optar por eles, é importante verificar se os filtros estão sendo trocados com frequência. No local do trabalho, além disso, costuma ter uma copa, aquelas salinhas mais apertadas e sem janela. As pessoas têm o hábito de entrar no local, tirar a máscara e tomar o famoso cafezinho. Mas o melhor é optar por se alimentar em um local arejado. Nesse retorno, vale lembrar de manter o distanciamento adequado. Somos muito afetivos e é preciso sempre se conter com os abraços e contatos mais próximos, pois eles podem colocar em risco a saúde. No retorno para casa, também, se for pegar uma carona com um colega, é necessário manter o uso de máscara dentro do carro e, de preferência, com a janela um pouco aberta para garantir uma troca constante de ar.

Joana Darc,

infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran)

Segurança como estratégia

O Santo Bar Brasília, na 201 Norte, inaugurado em 4 de fevereiro por Cyntia Moura Santo e mais dois irmãos, aposta nos protocolos de segurança para atrair os clientes. “A gente tentou fazer com que os visitantes estivessem mais próximos da normalidade, mas respeitando os protocolos. Por isso, colocamos elementos que pudessem distrair os clientes e mantivemos o local arejado e com boa ventilação. Percebo que as pessoas estão sedentas por terem um momento de tranquilidade depois de toda a turbulência que enfrentamos. Por isso, trazer essa segurança ao cliente, de seguir os protocolos, e perceber que a vacina está avançando, dá uma força na recuperação da economia”, avalia.

A gerente regional de Marketing do Conjunto Nacional, Ticiana Pessoa, avalia que o crescimento vem sendo gradativo, mas já acontece desde abril. “O fluxo vem aumentando aos poucos e percebemos, nesses últimos meses, alguns comportamentos de consumo focados principalmente em eletros, alimentação e lojas de departamento. E com a circulação maior de servidores e executivos, outras empresas que estavam em home office optarão por voltar. Mês a mês esperamos essa retomada expressiva”, esclarece.

Oswaldo Scafuto, dono do Santé Lago e Santé 413 Norte, destaca que apostar em atrativos diferenciados para os clientes tem sido um caminho. Mas ele lembra alguns desafios enfrentados pelo setor. “Tudo está mais caro. Tivemos um aumento de cerca de 35% na matéria prima. Além disso, existe o investimento em spray, capacho, papel toalha, qualificação de colaboradores e afins. Geralmente, o comerciante vem segurando esse repasse ao consumidor, mas o preço dos produtos não é a mesma coisa de antes da pandemia”, frisa.

Apesar dos desafios, Oswaldo espera recuperar, nos próximos trinta dias, cerca de 30% do movimento. “O comportamento de almoçar com colegas de trabalho vai voltando”, finaliza.

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