23 de novembro de 2024 04:21

Onda de calor no DF: quem fica exposto ao Sol deve redobrar cuidados

Trabalhadores, esportistas e pessoas em situação de rua sofrem com a onda de calor que atinge o Brasil. Com a baixa umidade, a orientação é que as atividades sejam realizadas em horários menos quentes e que se beba muita água


 

 

A onda de calor que tem elevado a temperatura nos termômetros em praticamente todo o Brasil chegou ao Distrito Federal e derrubou a umidade relativa do ar. Desde a última segunda-feira, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) tem emitido alertas, orientando que se evitem atividades físicas entre 10h e 16h. Quem trabalha sob o Sol não consegue evitar a exposição e o problema se agrava para as pessoas em situação de rua, que não tem onde se abrigar.

Mesmo com 10 anos de experiência como motorista de ônibus, o calor acentuado dificulta as atividades de Antônio Vicente, de 60 anos. “Até trabalhar está difícil para a gente. Muita ‘quentura'”, revela. O morador de Samambaia conta que a lotação de passageiros dentro dos carros piora a sensação de sufoco que o clima quente traz. “Eu, graças a Deus, nunca passei mal, mas teve passageiro que já. A gente teve que chamar um socorro, o Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) e os bombeiros”, relata Antônio.

João Paulo da Silva Barbosa, 32, lida com altas temperaturas em sua profissão, e explica que precisa de muita hidratação para realizar suas atividades de forma correta. “Está bem difícil trabalhar nesses dias, calor muito desgastante, e a tendência é piorar”, conta. O técnico em telecomunicações sobe em poste para realizar manutenção necessária nos fios de conexão de internet. “É preciso tomar muita água, protetor praticamente a cada vinte minutos. Com a temperatura alta, nós ficamos até mais lentos na tomada de decisões”, frisa.

Especialista em treino ao ar livre, Julio Cesar, 53, diz estar preocupado com a onda de calor que está chegando. “Alguns cuidados devem ser tomados antes mesmo da atividade física. A hidratação é o fator principal para uma boa performance neste momento”, conta. O morador de Taguatinga disse que precisou mudar o horário dos treinos para períodos com temperatura mais amena. “A temperatura está muito alta, e umidade muito baixa e quem não se preparar, pode ter problemas”, lembra. Lorena Prado, 27, é aluna de Júlio, e sempre teve um bom condicionamento físico. Ela começou há pouco tempo a realizar exercícios ao ar livre. “Faço uso de protetor solar, me hidrato bastante e faço dieta. Isso me ajuda a enfrentar meus treinos e esse tempo seco”, pontua.

Atenção

Para o membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Ricardo Luiz de Melo Martins, os cuidados necessários para evitar desidratação devem ser redobrados pelos brasilienses. A baixa umidade é responsável por reduzir as gotículas de água presentes no ar e o clima quente influencia a perda de líquido do corpo pelo suor. “Você perde líquido sem perceber”, explica o professor de medicina da UnB.

A baixa quantidade de água é logo sinalizada pelo corpo. “A pessoa começa a ter alterações no organismo, como tontura, fraqueza, sonolência, letargia. Até o ponto de desmaio”, detalha. De acordo com Ricardo, pais devem garantir a hidratação das crianças, que costumam gastar em brincadeiras e outras atividades. Essa atenção também deve ser reforçada com idosos, grupo que o profissional recebe com frequência nos consultórios durante o período de seca. “Os órgãos vitais estão menos rígidos e com mais propensão a desenvolverem problemas de saúde”, justifica.

Dentre as medidas de cuidado, Martins indica o consumo de frutas, verduras e legumes, o uso de roupas leves, e manter os ambientes arejados. Também é importante evitar o consumo de bebidas alcoólicas, pois a propriedade diurética expele mais água para fora do corpo.

Invisibilizados

Pessoas em situação de rua são outro grupo frágil diante do clima extremo. Segundo o presidente do Instituto Barba na Rua, Rogério Barba, muitos desabrigados dependem da ajuda de comerciantes para ter acesso a água e mantimentos. “Tenho orientado outras instituições para que façam campanhas pedindo que as pessoas levem garrafa de água no seu carro. Assim, quando você parar no sinaleiro e ver alguém, entregar essas garrafas”, ele comenta.

Rogério também cita que a preocupação com o calor sofrido por quem vive na rua não recebe tanta atenção quanto é observado em época de frio. “Em Brasília, não temos muitos banheiros públicos onde essa população poderia fazer um uso. Na Praça do Relógio (Taguatinga) o banheiro que tinha foi tirado, se ainda estivesse lá a pessoa poderia ir e tomar um banho”, cita. “Se algum morador de rua precisar entrar no Hospital de Base para beber água, eles não permitem.”

Hoje, um ônibus com chuveiro embutido passa pelas cidades oferecendo o espaço do veículo para higienização, principalmente aos finais de semana. Por volta de 30 a 50 pessoas em situação de rua são beneficiadas, número que é maior quando a Instituição tem acesso a alguma torneira capaz de carregar de água os tambores dentro do carro.

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