Última noite da Mostra Competitiva Nacional tem como destaque o longa ‘A invenção do outro’, dirigido por Bruno Jorge
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Bruno apontou para a relevância da temática indigenista no cenário político e social atual. “O filme mostra um pouco o trabalho do indigenismo na prática, e isso aproxima no sentido de trazer aquela realidade local”, comenta o diretor. Ele destaca que a maioria das políticas e da forma de pensar o indígena ainda é tomada a partir de uma certa distância. “Entender aquela realidade adiciona variáveis e elementos para tomar as melhores decisões”, pontua.
A idealização do projeto, segundo o diretor, começou com um convite do indigenista Bruno Pereira para a expedição realizada pela Funai em 2019. “Ele me ligou e me chamou para acompanhar ele na expedição e fazer um filme”, revela. Em meses na articulação do documentário, o roteirista detalha que não existe uma mensagem única e moral para resumir todo o processo, uma vez que ele é fruto de um trabalho intenso. “A experiência mais forte existencial que já tive até hoje mediada pela câmera”, finaliza.
Em junho de 2022, Bruno Pereira foi assassinado, na região do Vale do Javari, no Amazonas. Ele era especialista em povos isolados do Brasil e teve participação ativa no trabalho audiovisual. Durante o evento, diversas pessoas prestaram homenagem ao indigenista com camisas escrito “Justiça por Bruno e Dom”. O segundo nome é do jornalista Dom Phillips, também assassinado no ataque que deu fim a vida de Bruno.
O diretor afirmou em discurso antes do início das exibições da noite que estava muito feliz de estrear o longa em Brasília. Ele aproveitou para dedicar a sessão à esposa, Beatriz Matos, e à filha de Bruno. Ambas presentes no Cine Brasília.
A contextualização da temática também foi traduzida em música. Antes do espetáculo começar, as caixas de som tocaram diversas canções de todos os gêneros que tratavam de temas ligados à causa indígena: Todo dia era dia de índio, de Baby Consuelo; Xingu, de João Nogueira, Nhanerãmoi’i karai poty, do grupo Memória Viva Guarani; Itsari, da banda Sepultura; Estória da floresta, de Milton Nascimento; Demarcação já, do DJ Mam com Chico César & BaianaSystem; e outras.
Noite de curtas intimistas
O primeiro curta exibido foi Um tempo para mim, de Paola Mallmann. A trama acompanha Florência (Juliana Timóteo), uma criança mbya guarani, e explora questões femininas, como a primeira menstruação, a partir de uma ótica indígena. A diretora gaúcha, Mestre em Antropologia com ênfase na Arte, Imagem e Comunicação, ressaltou, durante discurso prévio, o papel da arte. “Fazer transver outras realidades e mudar nosso comportamento e nossas ações”, explica.
Lugar de Ladson, do geógrafo Rogério Borges, foi o segundo curta da noite. Em meio a um momento complicado no país, o jovem Ladson, com deficiência visual, se apaixona por uma menina na internet e combina de encontrá-la. Todavia, as condições internas e externas se apresentam como barreiras. No discurso, Rogério comentou sobre a imersão no projeto: “Foram três anos de pesquisa com um aluno meu para chegar ao projeto final.”
Festival realiza cerimônia de premiação em 20 de novembro
Com apresentação da atriz Bárbara Colen, o 55° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro segue até o próximo domingo (20/11). A noite será marcada pela cerimônia de premiação.