22 de novembro de 2024 15:27

Após morte de influencer, Cremesp pede à Anvisa que proíba venda de PMMA

Conselho Regional de Medicina diz que produto é da classe de maior risco e representa “ameaça” à população

 

 


 

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou nesta sexta-feira (5) que notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que proíba, de forma cautelar, a distribuição e comercialização de produtos à base de polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, em procedimentos de saúde em geral ou estéticos.

 

 

Dona de clínica onde influencer morta fez aplicação de PMMA é investigada por lesão corporal seguida de morte

 

O pedido foi feito na mesma semana em que a influenciadora digital Aline Ferreira, 33 anos, morreu após complicações decorrentes da aplicação de PMMA nos glúteos. O procedimento, pelo qual ela pagou R$ 3.000, foi feito no dia 23 de junho e a morte foi confirmada na última terça-feira (2).

 

“Produtos a base de PMMA pertencem à Classe IV – máximo risco, de modo que a ausência de restrições em relação a sua comercialização acaba representando uma ameaça à saúde e segurança da população”, diz Eliandre Palermo, conselheira responsável pela Câmara Técnica de Dermatologia do Cremesp.

 

O coordenador do departamento de Comunicação do Cremesp, Alexandre Kataoka, afirma que o PMMA não é recomendado para fins estéticos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) em razão do “elevado risco de complicações graves, irreversíveis, e até óbito dos pacientes, especialmente se administrados em grandes quantidades”.

Segundo o Cremesp, atualmente a Anvisa permite a venda de produtos à base de PMMA para preenchimento cutâneo e muscular com finalidade corretiva estética ou reparadora. A notificação pede que haja uma resposta em até 48 horas e diz que, em caso de descumprimento, poderá levar o tema à Justiça.

 

O que diz a Anvisa

 

Procurada, a Anvisa confirmou que recebeu o ofício do Cremesp e que o pedido será avaliado. Ao contrário do que informou o conselho, a agência diz que o ofício não estabelece prazo. “No entanto a análise será realizada com a maior brevidade possível”.

A Anvisa afirma que “não regula procedimentos estéticos ou de saúde” e que “isso está no âmbito dos conselhos profissionais e sociedades médicas”.

 

Sobre o PMMA, a agência diz que o produto está autorizado para as seguintes aplicações:

 

  • Correção de lipodistrofia (alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo) provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes Aids
  • Correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.

 

“É muito importante ressaltar que, conforme informações aprovadas nesta Agência, o produto deve ser administrado por profissionais médicos treinados. Para cada paciente, o médico deve determinar as doses injetadas e o número de injeções necessárias, dependendo das características cutâneas, musculares e ósteocartilaginosas de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação”, alerta a Anvisa.

A agência acrescenta que “o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos”. “Porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial. Cabe ao profissional médico responsável avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.”

 

Morte da influencer

 

O procedimento feito nos glúteos da influencer Aline Ferreira foi feito em uma clínica em Goiânia (GO). A responsável pela aplicação –que também é dona do estabelecimento, é a empresária Grazielly da Silva Barbosa.

Segundo as investigações, Grazielly se apresentava como biomédica, mas não possui nenhum diploma de graduação na área da saúde.

Segundo Elisangela Maria Lima, tia da influencer, a sobrinha teve febre cerca de três dias depois do procedimento.

A paciente entrou em contato com a profissional que fez a aplicação, que indicou a ela alguns remédios. “Ela tomou essas medicações, só que não passava a dor. E ela começou a sentir uma dor abdominal muito grande. E aí o esposo dela a levou para um hospital particular”, conta Elisangela, que não informou o nome do estabelecimento ao qual Aline havia sido levada.

No hospital, diz a tia, Aline foi medicada e liberada. “No caminho de casa, ela desmaiou. E aí o esposo dela a levou para o HRAN [Hospital Regional de Asa Norte]. Quando ela chegou no HRAN, internaram na hora”, lembra.

Um dia depois, ela foi transferida para um hospital privado em Brasília, onde teve a morte confirmada por volta das 21h do dia 2.

 

 

 

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