A federação da indústrias afirma que 91% das fábricas no RS estão debaixo d’água
As chuvas no Rio Grande do Sul ainda trazem preocupações aos gaúchos, com a expectativa de que o Estado volte a observar intensidade pluviométrica na quinta-feira (16), aliada ao frio intenso.
De acordo com a Defesa Civil do Estado, o número de mortos já chega a 147, com 127 desaparecidos, 538.241 desalojados e 2.115.703 pessoas afetadas.
Além das perdas humanas, outros reflexos para o país estão sendo analisados, como a probabilidade de impactos à economia brasileira, atingindo desde o Produto Interno Bruto (PIB) estadual e nacional até a inflação.
Chuvas devem gerar consequência para cadeias econômicas
Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS-RS), 91% das fábricas estão debaixo d’água e os impactos aos municípios afetados, com 336 em estado de calamidade pública, devem gerar problemas logísticos que afetarão todas as cadeias econômicas do RS, afetando portos, aeroportos, estradas e pontes.
O estudo realizado pela Federação aponta que os municípios considerados afetados representam 80,3% do valor acrescentado bruto (VAB) do Rio Grande do Sul, 78,2% do VAB industrial e 83,3% da arrecadação de ICMS com atividades industriais.
Ainda, de acordo com a FIERGS, a indústria do RS responde por 6,1% do PIB brasileiro (R$ 121,1 bilhões), 8,9% dos estabelecimentos (51,2 mil indústrias) e 7,7% dos empregos formais (861,9 mil trabalhadores).
O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, em relatório assinado por Fernando Honorato Barbosa, também pontua que os setores agrícola e industrial são proporcionalmente maiores no Estado, com o Rio Grande do Sul correspondendo a aproximadamente 12,6% do PIB agrícola e 8,3% do PIB da indústria de transformação.
“O potencial impacto sobre o PIB brasileiro é da ordem de 0,2 a 0,3 ponto percentual”, afirma o relatório.
Para o Departamento, o principal impacto na atividade econômica se dará em maio, com o mês de junho sendo um momento no qual grande parte das atividades estará normalizada, dependendo dos danos e do ritmo de reconstrução local.
Outro impactado será o setor da agropecuária, segmento que deve considerar as perspectivas pessimistas. Ele corresponde por 15% do PIB estadual, o que representa 21,6% do PIB agropecuário brasileiro.
Gargalos na agropecuária trazem más notícias para inflação
O Bradesco aponta que, para a inflação, o desabastecimento de produtos na região tende a gerar um choque de preços local, sem se saber como os indicadores do IBGE serão afetados pela coleta e destacando que Porto Alegre tem peso de 8,6% no IPCA nacional.
“Se Porto Alegre experimentar um evento parecido [com alta significativa, mas temporária, dos preços de alimentos e combustíveis], o impacto na inflação na cidade poderia chegar a 0,7 p.p, e o impacto sobre o IPCA nacional seria da ordem de 0,06 p.p., que provavelmente será revertido nos meses seguintes”, aponta o Departamento.
“No entanto, a natureza do choque causado pela enchente é diferente, ao afetar oferta e demanda, o que pode limitar a pressão sobre os preços”, complementam.
Pensando na influência às commodities produzidas no Estado e afetadas pela chuva, o risco pode ser maior. Isso porque o relatório reafirma a preocupação ao arroz, já que o Rio Grande do Sul é representativo na produção nacional e o alimento tem importância para a cesta brasileira e para a soja, já que quedas na produção nacional levariam a pressões maiores sobre os prêmios no segundo semestre.
“Assim, em um primeiro momento, parece razoável considerar um impacto potencial de 0,2 p.p. na inflação deste ano, estimativa que considera uma alta de 5% da cotação da soja e um choque próximo de 20% do arroz no atacado”, finaliza o Bradesco.