Associação de Supermercados de Brasília (Asbra) prevê alta de 12% a 15% nas vendas de produtos como peru, chester, espumantes, vinhos e frutas secas. Consumidores, entretanto, reclamam que preços subiram muito em relação a 2022
As prateleiras e os freezers do comércio do Distrito Federal estão repletos de frutas secas, castanhas, panetones e os tradicionais peru, tender e frango para a ceia de Natal dos brasilienses. Segundo a Associação de Supermercados de Brasília (Asbra), o setor espera alta de 12% a 15% nas vendas desses produtos em relação ao mesmo período do ano passado. Para os consumidores, porém, o custo dos alimentos está mais salgado.
Os comerciantes alegam que o 13º salário é o principal motivo para a boa expectativa em relação ao consumo. O Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista-DF), baseado em estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acredita que a gratificação de fim de ano injetará na economia do DF cerca de R$ 8,82 bilhões. “Essas cifras positivas deixam a sociedade e o comércio otimistas. Mais dinheiro em circulação significa mais empregos, renda e consumo. O comércio vem se estocando desde agosto para as vendas de fim de ano”, ressalta Sebastião Abritta, presidente do sindicato.
No Supermercado Veneza, do Cruzeiro Velho, o professor de educação física Carlos Valim, 54, diz que não deixará de montar a ceia natalina, mas dividirá os custos com os parentes para fugir dos altos preços. “No ano passado, o peru estava quase R$ 90 e este ano já está em R$ 126. Geralmente, divido as compras entre os familiares e, dessa forma, não pesa o bolso de ninguém”, afirma o morador do Guará.
Carlos, que costuma passar o Natal com a mãe, no Cruzeiro Velho, diz que não dispensa comemorar esta época do ano com os familiares mais próximos. “Lembra a infância da gente, e o meu pai, que é falecido. Todo ano é sagrado. Fazemos peru, maioneses, farofa, um doce e uma sidra. É o que a gente mais gosta”, afirma.
Diretor da Asbra e gerente-geral de uma rede brasiliense de supermercados, Givanildo Aguiar, 47, explica que os custos de produção aumentaram de 8% a 10% em relação ao fim de 2022. Segundo ele, o comércio não consegue deixar de repassar essa alta nos preços para os clientes. “A gente segura enquanto dá, e dividimos esse aumento entre a indústria, comércio e consumo do varejo final. Fica mais fácil de carregar esse fardo e repassar o mínimo possível de acréscimo ao consumidor final”, contextualiza.
Promoções
Para aliviar o bolso das pessoas, Givanildo Aguiar pondera que o comércio realiza promoções, como a redução de mais de 50% no preço dos vinhos, sidras e espumantes, na unidade do Cruzeiro Velho. “Trabalhamos com duas faixas, um preço nesses primeiros momentos. E, de acordo com o movimento, se a gente vê que precisa reduzir a margem, vamos fazendo gradativamente”, complementa o gerente-geral do Supermercado Veneza.
A aposentada Rosária Carvalho, 70, vai esperar o início das promoções para começar a organizar a ceia de Natal com a família. “Cada um leva uma coisa. Eu costumo levar peru, chester ou tender e a minha sobrinha faz rabanada, por exemplo. Ter que bancar tudo fica muito complicado”, alega a moradora da Octogonal.
Para evitar a compra de frangos de 1kg, que custam em média R$ 80, Rosária pretende fazer um salpicão de frango defumado de 800g, a aproximadamente R$ 52 nos mercados onde ela costuma pesquisar os valores dos produtos. “Os preços estão assustando, mas a gente não deixa de se reunir em família”, completa Rosária.
Que seja doce
Lurdes Prado, 75, também está preocupada com o aumento dos preços, mas não esconde a animação de fazer sobremesas com castanhas, nozes e damasco produtos que ela adiantou as compras. “Faço o famoso pudim e um pavê, que não podem faltar, assim como as frutas naturais”, diz a moradora do Cruzeiro Velho.
Para ela, virou um desafio para os consumidores a compra dos itens da ceia natalina. “O empresariado não tem pena de ninguém. Já liguei para os meus parentes, desde netos a irmãos, e peço para todo mundo da família contribuir com o que puder, contando que não falte nada na mesa. É um Natal econômico e bem parcelado”, brinca Lurdes.
Retomada econômica
Diretor de relações-públicas do Sindicato dos Supermercados (Sindsuper-DF), Jefferson Macedo avalia que esse cenário de retomada econômica somado ao crescimento gradual da renda e emprego no país tem influência direta na alta dos preços de bebidas e comidas natalinas. “O tradicional chester e peru devem ter um crescimento acima de 5%, com certeza. Mas ,nas outras aves não tão tradicionais, como o frango fiesta e briscker, a ideia é que ela tenha um crescimento acima de 10%, que têm sido forte nos últimos anos”, detalha.
Jefferson acredita que a retomada da economia será impulsionada ainda devido ao período pós-pandemia de covid-19. “Temos visto mais festas, reuniões e isso é um fator que vai impactar diretamente a venda no varejo alimentar, por essa questão de a população como um todo estar se organizando para essas festas familiares”, opina Macedo.