De fato, existem inúmeras e importantes referências arquitetônicas espalhadas pelo país, mas por que então escolher Brasília?
Para falar sobre Brasília, a capital do país, é preciso falar também sobre a conversão de elementos de riqueza e diversidade culturais do Brasil, presentes em todos os cantos da cidade, e não há data melhor para isso do que o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, comemorado em 17 de agosto.
Criada em homenagem ao primeiro presidente da Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Rodrigo Melo Franco de Andrade, a data é um marco que ajuda a preservar a história nacional.
De fato, existem inúmeras e importantes referências arquitetônicas espalhadas pelo país, mas por que então escolher Brasília?
Ao contrário da maioria das cidades, Brasília não ajustou seu crescimento à paisagem, mas a criou em meio ao vazio do Cerrado. E muito além da visão modernista de Oscar Niemeyer e do urbanista Lúcio Costa, seu projeto do Plano Piloto, único conjunto urbano no mundo de tal envergadura e características do Movimento Moderno, a imponente capital carrega de tudo em si e remete continuamente às origens e tradições do povo brasileiro.
A ousadia de seu traçado planejado, inclusive, a conduziu ao seu tombamento como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, pela Unesco em 1987. Entre seus inúmeros marcos arquitetônicos está o Catetinho, residência temporária do então presidente Juscelino Kubitschek durante o processo de construção da nova capital do Brasil.
De estilo simples e funcional, o projeto de Oscar Niemeyer se tornou um símbolo da visão de futuro e resiliência de JK, e embora contraste com os edifícios modernistas que caracterizam Brasília, foi palco de encontros diplomáticos, discussões políticas e visitas ilustres. Atualmente um museu, o Catetinho preserva a história e objetos pessoais de JK, bem como informações sobre o processo de construção de Brasília.
Ainda, uma das características mais marcantes do Plano Piloto são as ‘Superquadras’, unidades residenciais e comerciais que representam um inovador conceito de organização urbana e comunitária. Construídas como grandes blocos de edifícios, contribuíram significativamente com a história do urbanismo mundial. Isso porquê, a estrutura tradicional de um quarteirão foi rompida para dar espaço a um bosque ampliado em meio aos blocos residenciais, construindo uma nova forma de moradia em área urbana.
Com base nas ideias de Le Corbusier, cada conjunto de quatro superquadras deveria formar uma unidade de vizinhança completa, para ser autossuficiente com total integração social e mobilidade, onde podemos observar as quadras Sul 107, 108, 307 e 308 que mais se aproximam das propostas habitacionais elaboradas por Lúcio Costa:
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- A ideia da intensa arborização foi criar a qualidade ambiental e acústica. As árvores, além de deixar sombra fresca no quadrado da superquadra onde as pessoas socializam, fariam uma barreira acústica para os ruídos externos.
- Assim como boa parte da arquitetura daquele período, os pilotis foram fundamentais para a construção dessas quadras, pois os edifícios tornaram-se suspensos, permitindo que a perspectiva social se concretizasse. Os moradores desfrutam em conjunto debaixo dos salões que se formam nas áreas de circulação democratizadas.
- Na quadra 308 Sul, o edifício residencial projetado por Marcelo Campello e Sérgio Rocha é um dos mais emblemáticos da capital. Espelhado, foi cenário do filme ‘Somos Tão Jovens’, com suas grandes janelas de vidro, piso preto e colunas de mármore branco, mas sem esquecer do lado alegre da vida com detalhes em azulejos coloridos. Ainda nesta quadra, há um belo jardim e um espelho d’água projetados por Burle Marx, onde os moradores podem desfrutar da qualidade paisagística do local. Também podemos ressaltar que abriga a Igreja Nossa Senhora de Fátima, um edifício de pequenas proporções, mas de incrível engenhosidade e beleza plástica, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, decorada com azulejos do artista Athos Bulcão e afrescos de Alfredo Volpi.
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Outra parte fundamental do planejamento urbano da capital do país, que não podemos deixar de mencionar, são as Cidades Satélites. Criadas para fornecer habitação, serviços e infraestrutura para a população que se deslocaria para a região, em decorrência da mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília, elas seguem os mesmos preceitos de mobilidade, integração e qualidade de vida das superquadras.
*Marcello de Oliveira (Diretor de Arte da KPMO Cultura e Arte). O traço, o desenho e as cores sempre sobressaíram entre os interesses de Marcello e tornaram-se decisivos em sua formação como arquiteto e urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAU/USP. Desenvolveu ao longo dos anos experimentações acadêmicas, no Brasil e no exterior. Dedicou-se ao estudo da história da arte, das artes plásticas e da fotografia, o que o levou a realizar diversas viagens temáticas com foco em arquitetura, design e artes visuais. Esse multipluralismo definiu sua identidade com a área de criação de arte de livros, exposições e eventos.