23 de novembro de 2024 04:01

Pepsico vende a Mabel com prejuízo de mais de R$ 500 milhões

A gigante multinacional Pepsico vendeu, nesta semana, a operação da fabricante de biscoitos Mabel após ter ficado dez anos com a empresa em seu portfólio. Não foi um bom negócio para a companhia americana, uma vez que as perdas com a operação foram de mais de R$ 500 milhões – e isso sem contar a inflação do período. “A ordem da Pepsico era sair rápido do negócio, por isso o preço foi tão baixo”, disse uma fonte próxima à operação. Além disso, segundo outra pessoa próxima ao assunto, o interesse pela Mabel não foi muito forte no mercado.

O prejuízo de quase R$ 550 milhões foi revelado após a Camil ter divulgado, nesta quinta-feira, 25, que pagou um total de R$ 152,8 milhões pelas empresas que controlam a Mabel. Dez anos atrás, quando a Pepsico entrou no negócio, o valor foi bem diferente: cerca de R$ 700 milhões. Ou seja: a Pepsico recuperou pouco mais de 20% do que pagou.

A Mabel foi fundada por uma família de imigrantes italianos nos anos 1950 e, antes da venda para a Pepsico, em 2012, teve o fundo Icatu entre seus sócios. A saída da gigante americana, que ocorre agora, vem alguns meses depois da mudança de comando do segmento de alimentos da Pepsico no Brasil, que ocorreu em março.

Dificuldade de vender a Mabel

A decisão da Pepsi de sair do negócio, segundo apurou a reportagem, está relacionada ao fato de que seu foco voltou para o segmento de “snacks” funcionais – uma estratégia global que garante margens maiores do que os biscoitos da Mabel, que são mais baratos e considerados um produto de “combate”.

“As demais marcas da Pepsico acabam acessando todas as classes e, até por isso, nunca houve um interesse em transformar a Mabel em uma marca global”, explicou uma fonte. Além disso, o mercado de biscoitos no Brasil não tem crescido em volumes vendidos, deixando grande parte das fabricantes com alta capacidade ociosa.

Um fato relevante divulgado pela Camil nesta quinta-feira também mostrou que a Mabel operava bem aquém de sua capacidade, com 40% das máquinas de fabricação de biscoitos paradas a maior parte do tempo. Hoje, a capacidade de produção da Mabel é de 110 mil toneladas por ano, mas só 66 milhões de toneladas estão saindo das linhas das fábricas da companhia.

Conforme informou a Camil nesta quinta-feira, a receita líquida dos ativos atualmente é de R$ 421 milhões. Portanto, conforme informou o presidente da companhia, Luciano Quartiero, há espaço para dobrar o faturamento das sociedades, uma vez que já existe capacidade instalada para produzir o dobro do que foi produzido no último ano.

Camil vem diversificando o portfólio

As empresas adquiridas detêm a fabricação de biscoitos das marcas Mabelo, Doce Vida, Mirabel, Elbi’s e Pavesino. Fazem parte da transação as unidades industriais de Aparecida de Goiânia (GO) e Itaporanga D’Ajuda (SE), que têm hoje cerca de 800 colaboradores. A venda ainda inclui um benefício extra à compradora: a transação estabeleceu o licenciamento para a Camil da marca Toddy para cookies pelo prazo de dez anos, além da aquisição dos ativos que compõem a linha de produção do rótulo para cookies.

A compra da Mabel veio em um momento de diversificação para a Camil. A empresa vem tentando ampliar seu portfólio e ganhar relevância na indústria alimentícia. Mais conhecida por cereais especialmente o arroz e o feijão, a Camil recentemente entrou no setor de massas, por meio da aquisição da Santa Amália, há um ano – e também tem uma operação de pescados enlatados.

A companhia disse ter a intenção de se posicionar como uma multinacional brasileira, especialmente na América Latina. Hoje, a companhia já está presente, além do Brasil, em mercados como Uruguai, Chile, Peru, Argentina, Venezuela e Equador.

Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Camil destacou que a Mabel é uma das marcas de biscoitos mais tradicionais e renomadas do Brasil, com liderança de vendas em rosquinhas no País e 2.ª marca mais lembrada no cash & carry (atacarejo). A marca Toddy representa a 2.ª marca em vendas de cookies no Brasil, com lembrança de marca acima de 98% para o consumidor.

O fechamento da compra está sujeito à verificação de órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Durante o período de análise da operação pelo órgão, as sociedades continuarão operando de forma independente. Segundo a empresa, a compra não se sujeita à aprovação dos acionistas em Assembleia-Geral da Camil.

Procurada, a Pepsico confirmou a venda da Mabel e afirmou: “O Brasil é um dos dez maiores mercados para a PepsiCo globalmente e a companhia seguirá investindo fortemente, e agora com mais foco, para acelerar seu crescimento no país através das categorias de snacks salgados, aveia, água de coco e achocolatados pronto para beber e em pó (Toddynho e Toddy), nas quais detém importante liderança de mercado.” 

Arroz camil 1kg
Camil compra da Pepsico a fabricante de biscoitos Mabel. Conhecida pelo ‘arroz com feijão’, Camil quer ser multinacional de alimentos.

Companhia brasileira está em fase de expansão do portfólio de produtos e, ao mesmo tempo, vem crescendo no exterior; próximos mercados devem ser Argentina, Colômbia e Venezuela.




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