Os jardins verticais tornaram-se tendências nos apartamentos dos brasilienses, como item decorativo ou como uma terapia em tempos de pandemia. Mesmo em espaços pequenos, o ambiente exige uma série de cuidados especiais
Quando ouve-se falar em jardim, logo pensamos em campos verdes, cheios de plantas e o colorido das flores. E a tendência dos jardins verticais traz uma outra perspectiva do espaço, que, agora, não está apenas em casas, mas nos apartamentos e prédios. A opção é ideal para quem ama morar em ambientes floridos e enfeitados, mas tem espaço limitado. Especialistas dão dicas de como montar um local moderno e manter as plantas saudáveis.
A arquiteta Taíza Braga explica que, como muitas pessoas não têm espaço suficiente no apartamento e pouco tempo para cuidar das plantas, os paisagistas criaram soluções voltadas especialmente para ambientes pequenos. Nessa pegada, surgiu o jardim vertical. “Eles podem ser montados em paredes de qualquer ambiente da casa, em áreas internas ou externas, a exemplo da varanda. Eles contribuem para o isolamento acústico e térmico, além de melhorar a qualidade do ar”, afirma a especialista.
Taíza ressalta que, além dos benefícios para o bem-estar pessoal, o jardim vertical cria uma comunicação visual sofisticada, elegante e leve para qualquer ambiente. “A utilização de recursos modernos desenvolvidos por um profissional, empregam ideias inovadoras transformando ambientes frios e monótonos em locais aconchegantes, esteticamente bonitos e, acima de tudo, propícios para funcionalidades diversas”, enumera.
A arquiteta lembra que há alternativas de jardins verticais que não demandam a atenção que vegetações vivas necessitam. “Os jardins permanentes são compostos por plantas de silicone, proporcionando similaridade com as plantas naturais, devido suas cores, texturas e volumes. Já os jardins naturais preservados são desenvolvidos por folhagens naturais e pintadas manualmente. São delicados e indicados para áreas internas, não podendo ser expostos à luz solar, vento e água”, detalha Taíza.
Conhecimento
Quem optar pela vegetação viva precisa seguir uma série de cuidados. O especialista em plantas, Eiiti Yuri alerta que é preciso estudar o exemplar e qual o tipo de luminosidade precisa. “Temos feito muitos jardins verticais com vários tipos de plantas. Se o cliente quer essa variedade, precisamos saber se elas convivem bem juntas. Elas têm que gostar da mesma luminosidade, têm que ter o mesmo período de rega e o mesmo tipo de manutenção, como a poda e o hábito de crescimento. Tudo vai interferir na manutenção do jardim vertical”, conta.
Desde o início da crise sanitária da covid-19, Eiiti percebeu um aumento na procura por flores, hortaliças e folhagens para compor jardins verticais. Ele avalia que o fato de a população estar mais tempo em casa e isolada criou-se um sentimento de falta de vida dentro do lar. “As pessoas viram a necessidade de ter mais vida, verde, cores e texturas em casa. E a vegetação agrega muito nessa questão. As plantas tiveram alta procura na pandemia. É uma terapia cuidar de jardim, horta. Ocupa tempo”, argumenta Eiiti.
Foi exatamente em busca de um hobby neste período de isolamento que o casal Jordana Felipe, 27 anos, e Douglas de Oliveira, 32, decidiu montar um jardim vertical no apartamento onde moram, em Samambaia Norte. A proposta partiu do motorista de ônibus, no início da pandemia. Desde que moram no local, criaram o hábito de ter plantas, mas sentiram falta de um espaço mais moderno. “A gente tinha na varanda umas plantas penduradas, mas achei legal dar uma mexida em tudo, otimizar. Surgiu a ideia de reformar e fazer um painel completo. Vi inspirações na internet e comecei a pesquisar sobre o assunto até chegar a hora de colocar em prática”, resume o rapaz.
Douglas fez o desenho de como queria o jardim, procurou um marceneiro e começou a montagem do espaço. O casal publicou o passo a passo no perfil do instagram em que falam sobre decoração @apart_702b. “Durante a pandemia, sem poder sair de casa, fizemos disso uma terapia, para não ter aquele tempo ansioso. É uma das partes que mais gosto do apartamento”, complementa o motorista.
“Virou nossa terapia, principalmente para o Douglas, que sempre gostou mais de plantas. Ele se sente relaxado, liga uma música, mexe nas plantas. Ele gosta de trabalho manual”, relata Jordana. O jardim vertical chama a atenção dos vizinhos. Alguns entraram em contato com o casal pedindo uma instalação dessas. “Recebemos vários feedbacks de vizinhos que queriam saber como compramos, como montamos, quais plantas temos. Muita gente mesmo. Hoje, algumas varandas têm jardins verticais, além da nossa”, comenta a professora.
Saúde mental
Apaixonada por flores desde nova, a aposentada Anália Fernandes Viana, 82, montou um jardim completo na varanda do apartamento onde mora, na 112 Norte. Ela descreve que foi comprando mudinhas aos poucos no mercado e, quando viu, a área estava tomada pelo verde. “Eu ia trazendo e foi só aumentando. Eu ia ‘roubando’ mudinhas também”, confessa. “Mas era sem querer”, brinca.
Ao andar pela varanda, é difícil apontar a preferida. “Gosto de todas. Tudo que eu vejo dá vontade de plantar. Todo lugar que eu vou, se eu ver e não puder pegar eu fico doida. As plantas representam muita coisa para mim. Me dão alegria, vontade de trabalhar, plantar, colher flores. Adoro flores”, reforça Anália.
O filho da aposentada, o jornalista Humberto Viana, 52, destaca que a mãe tem uma conexão muito bonita com as plantas, inclusive conversa com os exemplares no jardim.”Ela precisa das plantas. Para a saúde mental dela, essa relação é fundamental. Quando ela viaja e liga para cá, não quer saber dos filhos, mas, sim, das plantas. Essa relação é bonita, porque ela se emociona, e a gente fica só assistindo. Ela veio da roça e trouxe para Brasília essa paixão. É um vínculo que traz consigo até hoje”, finaliza Viana.
15 plantas que podem ser usadas no jardim vertical
– Barba-de-serpente
– Jibóia
– Colar-de-pérolas
– Lambari roxo
– Aspargo-rabo-de-gato
– Liríope
– Véu-de-noiva
– Antúrio
– Flor-batom
– Samambaia
– Singônio
– Chifre-de-veado
– Hera-inglesa
– Ripsális
– Vriesia