O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha nasceu em 1992 em um encontro de mulheres negras em Santo Domingos, na República Dominicana. Elas definiram a data e criaram uma rede para pressionar a Organização das Nações Unidas (ONU) a assumir a luta contra as opressões de raça e gênero.
A população negra no Brasil corresponde a maioria, 54%, segundo o IBGE. De acordo com a Associação de Mujeres Afro, na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes. Porém, tanto no Brasil quanto fora dele, essa parcela populacional, principalmente as mulheres, também é a que mais sofre com violência.
A mulher negra é, ainda hoje, a principal vítima de feminicídio, das violências doméstica, obstétrica e da mortalidade materna, além de estar na base da pirâmide socioeconômica do país.
Em busca de refletir e mudar esse cenário, as amefricanas – mulheres afrodescentes nas Américas são chamadas de amefricanas por Lélia Gonzales, não apenas por partilharem o mesmo espaço geográfico, mas também o histórico e cultura – se reuniram em 1992 para o Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas.
Desse encontro nasceu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas. A Rede, junto à ONU lutou para o reconhecimento do dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.
“Do méxico e ilhas do Caribe pra baixo, os países da América Latina têm uma constituição comum, que nega o racismo e são essencialmente racistas. O ponto comum das amefricanas é o anúncio do racismo e sexismo, as mulheres negras são vítimas de dupla opressão e estão reivindicando isso”, explica Raquel Barreto, historiadora e pesquisadora. Doutoranda em história, especialista nas obras de Angela Davis e Lélia Gonzalez e co- curadora da exposição Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros, que será exibida no Instituto Moreira Salles de São Paulo, em 2021.
Raquel Barreto, historiadora e pesquisadora especialista nas obras de Angela Davis e Lélia Gonzalez (Foto: Divulgação)
Para Raquel, a importância de celebrar esta data é celebrar o fato de, como mulher negra, estar viva. “Nossa história não é só marcada pelo que o outro tentou fazer com a gente, mas se mede pela nossa capacidade coletiva de construir, mobilizar e sonhar. A data serve também para celebrar nossa vida e resistências e apontar o que ainda temos que conquistar e transformar. Ainda mais nesse momento de pandemia em que vivemos, assim como nos EUA, vimos aqui que a como ação da polícia na sua política genocida não cessou. Por isso, mais do qe nunca é preciso desejar dias melhores. Falar de outras possibilidades de futuro, não só para as mulheres negra, mas para o país. É o que o lema da marcha das mulheres negras diz: pelo bem viver”, diz a pesquisadora. “Eu não sou só o que a supremacia branca tentou fazer de mim, mas sim o que eu, apesar deles, consegui fazer e mobilizar”.
Dia de Tereza de Benguela
No Brasil, desde 2014, foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Mulher Negra e Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola símbolo de luta e resistência do povo negro.
“Se para as mulheres brancas a ideia de fragilidade marcou a presença delas na história, para mulheres negras, num contexto de diáspora, nossa existência foi marcada também por características que usualmente mulheres brancas não ocupam, como a possibilidade de liderar um quilombo e uma resistência militar. A data resgata o protagonismo de mulheres negras no Brasil”, diz Raquel.
Tereza de Benguela viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada. Esposa de José Piolho, ela se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.